Saturday 24 March 2007

RUA DO GIN (1)



Nos meados da década de oitenta, A Rua do Gin formou-se como banda em Braga, nascida de vários exercícios embrionários como o Pandemónio, que por si próprio também já vinha de várias direcções. Teve inúmeras formações, elementos esporádicos, estrelas convidadas como o Carlos F. na guitarra, ou até o Pinto M. nas teclas, ambos defuntos membros dos Mão M. Um baterista, o Tó, não conta mais entre nós, raparigas também por lá passaram, obviamente, como a Armanda, numa tentativa de pôr um rosto velvetiano ao acontecimento. O Sombra foi um dos primeiros a conseguir pôr uma voz nesta confusão toda, durante uma ida a Lisboa, que há de ficar nos arquivos para todo o sempre, como, vamos ser sinceros, a única vez que se conseguiu pôr este simpático grupo de amigos a produzir algo de realmente interessante. Única e última vez para o nosso shadow preferido que foi-se, preferindo as escuridões da sombra eterna às luzes brilhantes da ribalta, e também, convém salientar, por causa de conflitos entre personalidades de alto gabarito. Fica o contributo, Rebecca, mas onde estás? Ainda hoje, o mistério permanece. Lembramos a primeira colectânea subsidiada pela Câmara de Braga, o mítico À Sombra de Deus com capa de José Cristóvão, que gerou polémica na altura, o designer alterando a fotografia original, designers versus fotógrafos, malditos designers disseram os malditos... Ao que consta já não há vinis, ninguém os tem, há gravações em cassetes, já agora se alguém tiver cópias ou histórinhas para contar, agradecia que me contactassem no asianuxx@gmail.com, de certeza que se podiam publicar.
O Alexandre também deixou de ter paciência um belo dia, e fez-se à estrada, o baixo às costas como um verdadeiro cowboy rebelde. Um ensaio à tarde, um "mi" mais que tal, e pronto lá se foi uma longa colaboração que datava de muitos anos. É preciso notar mais uma vez que as personalidades em jogo nem sempre ofuscavam pela sua paciência. Projectos de casamento, influenciaram provavelmente e inconscientemente a decisão da ruptura fatal. Fica no entanto como o baixista que tocava dois ritmos diferentes ao mesmo tempo.
Tiveram algum violinista? A minha memória falha-me aqui. Será que tivemos a honra da presença dum outro Alexandre? Tenho a impressão que sim. O Paulinho gostava muito do John Cale.
O Paulo T. obviamente era o mentor, dono dos instrumentos, e infelizmente das nossas almas, o timoneiro da barca negra na sua deriva por águas turvas. Também principal compositor, guitarrista inspirado e voz segundária, ou principal, conforme as marés e as andanças. Bateristas, tivemos alguns. O Berto B., mais à vontade nos Rong Wrong, o Rafael, também mais à vontade nos Mão Morta, o Tó, que já não conta entre os vivos, e o Manuel L. Enfim, episódios efémeros. Vou ver se consigo incluir uma sessão de ensaios com o Manuel na bateria, só para aficionados.
Enfim, o verdadeiro baterista que se manteve mais de duas semanas no grupo sem que houvesse conflitos, foi a Yamaha R7 ou R11, o único elemento do grupo que conseguia tocar sem levantar a voz. Baptizada a Casa das Máquinas, a única que conseguia manter o ritmo infernal contra a maré muitas das vezes tumultuosa.
Falta o Tó, o nosso António, figura de proa e voz principal durante alguns tempos, não tenho queda para datas, desculpem lá. Ligeiramente cabeludo e caveiano, afirmou-se como voz a seguir ao Sombra. Com o Tó, as letras ficaram ligeiramente mais engagé.
Eu pessoalmente, tocava com duas distorções de pedal e mais uma terceira no amplificador que também tinha um reverb, e aquilo tudo ligado ao mesmo tempo fazia um feedback que era uma alegria, uma festa, especialmente em Lisboa, no Rock Rendez-Vous.
A princípio éramos quatro, o Rui M. nas teclas, na bateria e depois no baixo, passámos a três no concerto da Artenata no Sá de Miranda, a estreia, a seguir os membros saíam e entravam conforme a disposição e o grau de paciência. Tivemos uns pontos altos como no Teatro Circo, ou no RRV. Gravámos umas coisas. Uma colectânea de grupos de Braga, e uma segunda, o grupo já desfeito, contando só com o Paulinho. O único que teve paciência para se aturar a si próprio até ao fim. Eu fui-me para outras bandas, o Rui foi afastado, o Tó preferiu a outra banda dele, o Zero Amarelo. (Segue-se dentro de momentos)

Gravado em 1993 em Viana do Castelo.
A primeira mistura censurada.
Recorded in 1993 in Viana do Castelo.
The censored first mix.

1 - Gina
2 - Agora que eu sei
3 - Júlia
4 - Aparição
5 - Deixaste uma porta aberta
6 - Diz qualquer coisa
7 - Sanguesuga
8 - Eu,tu e a luz
9 - Espera por mim
10 - Negras barcas
11 - A casa em frente
12 - A marginal

Pandemónio
4 pistas gravado em Maximinos, Braga na casa do Manuel Leite por volta de 1990.
4 tracks recordings done in Maximinos, Braga at Manuel Leite's around 1990.

1 - Paraíso
2 - O que os meus olhos
3 - Negras barcas

Um ensaio na Rua de São Victor.
A rehearsal at Rua de São Victor
Ensaio gravado na Rua de Sâo Victor, Braga. 1991? -

A formação no ensaio é:
Paulo Trindade - Voz, guitarra
Rui Mendes - Baixo
Manuel Leite - Bateria
Jorge Moreira - Guitarra

In the mid-80's, Rua do Gin got shaped as a band in Braga, born from several embrionical exercises like the Pandemónio, which in turn came itself from diferent directions. It had inumerous formations, sporadic elements, guest stars, like Carlos F. on guitar, or even Pinto M. on keyboards, both dead members of Mão M. A drummer, To, does not belong to the living anymore, girls also passed through, obviously, like Armanda, in an attempt to put a velvetian face to the matter. Sombra was the first to put a voice on all that mess, during a trip to Lisbon, that will stay arquived forever, as the only time, let's be sincere, that this sympathetic bunch of friends ever produced something really interesting. Unique and last time for our favorite shadow who went off, prefering the darknesses of eternal shadow to the spotlights of the stages, and also, it should be said, because of conflicts between high standard personalities. Remains the tribute, Rebecca, but where are you? Even today, the mystery holds on. We remember the first compilation subsidied by the Townhall of Braga, the mythic, À sombra de Deus with the cover by José Cristóvão, that caused controversy at the time, the designer altering the original fotograph, designers versus fotographs, damned designers said the damned... As it seems there are no more vynils, nobody has them, there are tape recordings, if anyone has copies or stories to tell, you can contact me at asianuxx@gmail.com, I´ll be glad to publish them.
Alexandre also stopped to be pacient a fine day, and went on that road, his bass on his back, like a true rebel cowboy. A rehearsal in the afternoon, an "E" a bit harsher than usual, and there vanished a long colaboration dating for years. We should note also that the personalities envolved, not always shone with patience. Mariage projects influenced probably and inconsciously the decision of the final split. He stays anyway as the bass player who could play two diferent rythms at the same time.
Had they a violinist? My memory fails here. Had we the honnour of the presence of an another Alexandre? I have the feeling that yes. Paulo liked John Cale a lot.
Paulo T., obviously was the mentor, owner of the instruments, and unfortunately of our souls, the captain of the black ship deriving through muddy waters. Also main composer, inspired guitarist and second voice or main, acording the ways and tides. Drummers, we had a few. Berto B., more confortable with Rong Wrong, Rafael, also more confortable with Mão Morta, To, who is not among us anymore, and Manuel L. Efemerous episodes. I´ll see if I can include a sessions of rehearsals with Manuel on drums, only for aficionados.
At last, the only true drummer who stood more than two weeks in the band without any conflict, was the Yamaha R7 or R11, the only element of the band who could play without raising his voice. Baptized the House of the Machines, it was the only one who could mantain an infernal beat against the tide often tumultuous.
It remains To, our Antonio, figurehead and main voice during a while, I don't remember the dates, sorry. Slightly hairy and caveian, he imposed himself as the voice after Sombra. With To, the lyrics became a bit more engagé.
Me, I used to play with two distortion pedals and a third on the amp that also had a reverb, and everything on at the same time would make a hell of a feeback that was a joy, a party in itself, specially in Lisbon, at the Rock Rendez-Vous.
At the begining we were four, Rui M. on keyboards, on drums and later on bass, went to three at the concert of Artenata at the Sá de Miranda, the first one, after that members came out and in acording to the disposition and the degree of patience. We had some high moments like the Teatro Circo, or the RRV. We recorded a few things. A compilation of bands from Braga, and a second one, the band already undone, only with Paulinho. The only who had the patience to bear himself until the end. I went other ways, Rui has been set away, To prefered his other band, Zero Amarelo.
(Next episode coming soon)

3 comments:

Olha! Apetece-me! said...

Well,
Boa história.
Até que enfim que se começa a escrever um pouco da história destas bandas.
Mais uma vez parabéns
Eu nem sabia que tinhamos gravado os Pandemónio
1 abraço

asianuxxx said...

Não sei da data certa. Foi antes de ires para a América do Sul.

sombra said...

George, o teu tio sombra tem gravado em k7 a Rebeca antes do Trindade ter criado mais confusão na edição final para impressão do disco. É a verdadeira gravação da Rebeca by Rua do Gin feita em Oeiras pela malta.
Vou ter que passar isso para formato digital e depois envio-te. Já sabes! Ainda acrescento que Rebeca foi a primeira música portuguesa a entrar para a lista rebelde do "som da frente", programa de rádio de António Sérgio e referencia musical da altura, e ainda que o teu tio sombra, foi pelo mesmo António Sérgio, considerado o melhor vocalista português da época, chegando a influenciar inclusive o tio Luxúria Canibal (caso haja dúvidas, escutar o antes e depois). De resto agradece ao Trindade, a incapacidade de estar (h)á sombra!